sábado, 4 de abril de 2015

Menina da cidade




Sempre fui uma menina da cidade. Aquela que não subia, nem descia montes. Que não corria sequer para apanhar o autocarro. Que não gostava de calor, nem de vento, nem de qualquer mudança de temperatura. A miúda que detestava transpirar, que não brincava na rua, que não gostava de jogar à apanhada e que se sentia ridícula a correr.
Já mais velha, e durante muitos anos, usei golas altas quase todos os dias, e tinha amigdalites como quem bebe copos de água. O exercício era sempre indoor {para não ficar à mercê do caprichoso S. Pedro}, e sempre que, no início de época da ginástica rítmica, me obrigavam a correr no Jamor, sentava-me à sombra, escondida o tempo quase todo, e fazia sprints finais para tentar ter as pulsações  pretendidas, contadas meticulosamente pela Rosário, no final de cada treino. 

Sempre fui uma menina da cidade.
Aos 40, no entanto, descobri que também sou uma mulher do campo. E que há prazeres que quando chegam tardios, batem os outros quase todos.




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