sábado, 25 de abril de 2015

Ainda sobre o post aqui de baixo

Nunca imaginei o eco que o post aqui de baixo iria ter em tanta gente que passa por aqui.
Gente que também já sentiu o que é ser vítima de bullying na pele, e gente que o sente no coração, quando são os filhos as vítimas, acho que uma forma ainda mais penosa de passar por isto.
É por esta segunda razão - o bullying que nos atinge direitinho no coração - que decidi voltar a falar sobre o assunto.
Acho que ouvir um adulto que passou pelo fantasma, e que apesar das feridas e das marcas, segue a sua vida e saiu fortalecido daquilo tudo, pode ser uma forma de aliviar a dor. Gostaria que fosse, pelo menos.
Tenho a sorte de, até ao momento, não ter visto nenhum dos meus filhos passar pelo mesmo que passei. Tive, no entanto, um vislumbre, há cerca de um ano atrás, quando a minha filha teve um problema de pele que se manifestava na cara, e sofreu algum estigma com isso pelos colegas. Chegava a casa triste e chorosa, como eu, há mais de trinta anos. Mas vinha com uma ferramenta que não me lembro de ter tido: a raiva. Aquela raiva que, canalizada para o sítio certo, pode salvar-nos de uma certa dose de auto-comiseração. 
Ao contrário de mim, a minha filha estava furiosa com as amiguinhas que gozavam com ela, e que deixavam de a convidar para as brincadeiras. Sentia-se injustiçada e sabia que não era ela própria, com a sua pele esquisita, que estava mal, mas quem, só por essa razão, deixava de se aproximar.
Acho que esta postura faz a diferença e pode ser uma espécie de mecanismo de protecção que nos salva, literalmente, da tristeza profunda, do recolhimento forçado, e da maneira desfigurada como passamos a olhar para nós próprios. Um espelho da feira popular que, às vezes, carregamos uma vida inteira. Um peso morto que nos pode matar.  
Ainda assim, sem nenhuma dose de raiva e com muitas questões relativamente àquilo que valia enquanto pessoa, fui vítima de bullying e sobrevivi. E a Vida - essa senhora sábia que nos põe à prova continuamente - tratou de me obrigar a fazer escolhas difíceis e pouco politicamente correctas na idade adulta, como que a querer dizer-me "ainda tens medo do que os outros pensam, não é? Medo de pensar pela própria cabeça? Vá, toma lá uma prova de fogo e faz o que tem de ser feito". E eu fiz.

Às mães que me disseram que os filhos estão a ser vítimas de bullying neste momento, dizer-lhes que protejam, que defendam, que estejam atentas. Mas principalmente, que amem muito e que mostrem aos vossos filhos que não faz mal ficarem zangados. A zanga com a injustiça de que se está a ser alvo pode ser profundamente transformadora. Assim saibamos nós, pais, contê-la na dose certa, como na receita de um bolo. O melhor bolo do nosso mundo.
Eles sobrevivem. E nós também.

[obrigada por todas as partilhas. Do coração]

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