Não foi contigo que desabafei sobre os meus primeiros
namorados, sobre o meu primeiro beijo melado, nem sobre as minhas primeiras
grandes desilusões amorosas.
Não estavas lá para mim, ocupado que andavas com a tua vida-furacão, entre este País e outro
qualquer, entalado entre dois mundos.
Não me aconchegaste os lençóis à noite, nunca me leste
história nenhuma, baralhavas a minha data de nascimento e o ano em que andava
na escola. Sabias pouco de mim. Durante alguns anos, sabíamos muito pouco um do
outro.
Mas o Amor tem destas coisas desconcertantes: nunca chega
tarde. E não, não é um lugar comum, nem uma treta de um chavão. É mesmo verdade
que nunca é tarde para amar, e não foi tarde quando me chegaste.
Vieste a tempo de te levantares às quatro da manhã para me
ires buscar ao autocarro, no Campo das Cebolas, quando vinha de dar aulas de
dança em Braga. Vieste a tempo de te emocionares a veres-me dançar nos Alunos de
Apolo e em todos os sítios para onde ia, fins-de-semana a fio. Vieste a tempo
de eu poder conhecer contigo a selva amazónica, as dunas de Natal, as pirâmides
aztecas e a Acrópole em Atenas. Vieste a tempo de seres avô dos teus três
netos, aquele que os entope de doces e de mimos, até caírem para o lado de
cansados e de felizes. Vieste a tempo de me visitares quase todos os dias,
quando o teu neto do meio me obrigou a uma gravidez de cama. Vieste a tempo de
me apoiares quando tomei a decisão mais difícil da minha vida, a tempo de seres
o único pai que naquele exacto momento precisava.
Vieste a tempo de compensar tudo aquilo que não vivemos e de
sermos, juntos, tudo aquilo que não fomos.
Vieste a tempo de mim e de nós e esse timing perfeito, será sempre o teu maior feito.
[texto publicado no Roteiro 30 Dias]
2 comentários:
Tão bonito! Aproveitem-se bem!!
Mesmo bonito o texto ! E que continuem a fazer muito juntos, por muito tempo :)
Beijinho
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