sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Amo-te, como num filme mudo

Fazes-me uma caneca de chá, enquanto desligo o computador.
Aqueço a cara e os lábios no vapor quente, ao mesmo tempo que tiro a maquilhagem do dia, num malabarismo que só as mulheres percebem. 
Olhas-me neste meu ritual de gaja, já deitado na cama, e vais contando o resumo do dia numa ladainha que nem sempre ouço, mas que adoro como música de fundo. O teu timbre embala-me os pensamentos, e a forma como dizes algumas palavras, tira importância ao conteúdo. Gosto simplesmente de te ver falar, como num filme mudo. És bonito quando falas. E gosto de ficar a imaginar o que dizes, num jogo idiota. Naquele momento não me apetece ouvir, mas apenas saber-te ali. Chega-me, chega-me tanto.

Deitamo-nos e fechamos a luz. Abraças-me depressa, com urgência, e o silêncio que se instala é todo o ruído que preciso.
Ficamos assim, e eu penso que perdi contigo, o medo do silêncio. Mais um medo que perdi contigo.
Adormeço a pensar que o Amor também se mede assim: pelo número de fantasmas que lhe sucumbem. E já matámos tantos, juntos.