sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Nós por cá 2#

Estamos há dois dias enfiados em casa. Eu e o meu filho mais velho. Ele com uma gastroenterite severa, e eu de assistência à família.
Não vou mentir, sabe bem ficar no quentinho do lar enquanto o meu homem reboca, às oito da manhã, os outros dois porta fora. Gosto do silêncio que se instala depois de saírem e, modéstia à parte, sou uma excelente mãe de filho único. Trato do chá preto açúcarado, do soro hidratante, das torradas às secas, do franco grelhado com massa, e dos mimos exclusivamente direccionados a um filho, coisa rara para o próprio e para mim. 
Gosto {em doses muito moderadas} das gargalhadas sonoras da Cristina Ferreira e dos blazers desconcertantes do Manuel Luís Goucha, e não me incomoda a voz estridente da Júlia Pinheiro. Gosto dela, na verdade.
A meio do dia {e depois de repetidas doses de soro de hidratação e de chá preto açúcarado}, vou vendo umas séries que tenho em atraso, enquanto me asseguro que o puto está confortável, quente  e sem vómitos, nem febre.
Lá para as seis e meia da tarde regressa o barulho estridente dos outros dois ainda saudáveis {vamos ver por quanto tempo, que esta bicheza gosta de visitar toda a gente}, e recomeça a rotina dos banhos, do jantar and so on.

Mas a verdade, verdadinha {aqui que ninguém nos ouve}, é que não fui feita para ficar em casa o dia todo, muitos dias seguidos. Gosto de me arranjar e de sair, a apanhar a aragem fresca da manhã. Gosto do abatanado cheio fora de casa, do contacto com pessoas, da inspiração que a vida lá fora me dá para poder ser e fazer melhor quando regresso ao meu porto seguro.
Ao segundo dia de "clausura doméstica", as gargalhadas da Cristina Ferreira e a voz da Júlia Pinheiro já me causam alguma urticária e os blazers do Goucha ferem-me a vista. As idas ao supermercado tornam-se uma benção, e quando o meu homem regressa do trabalho, invejo-lhe as novidades do dia. Da minha parte, digo-lhe as vezes que o miúdo vomitou e o quanto parece desagradável o sabor do soro de hidratação.
A parte boa das situações menos boas é esta: tomarmos consciência que, afinal, temos a vida que queremos. E que não há assim tanto que precisemos mudar.




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