segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A infância deles e a nossa

A minha filha foi picada por umas melgas há uns dias, fez uma alergia severa e ficou com o corpo e com a cara feitos num oito. A coisa ficou realmente feia, ao ponto de chorar em casa com o facto dos amigos evitarem brincar com ela por causa do seu aspecto.
Este episódio trouxe de volta os meus anos de escola primária, quando eu própria era diariamente gozada pelos colegas. Tinha as pernas e os braços cobertos de psoríase e, aos 7 anos, tive um acidente de carro com a minha mãe, fiz um traumatismo craniano com afundamento e andei careca durante algum tempo. O tempo suficiente para sentir na pele o peso de ser diferente.
Hoje em dia estou bem resolvida com as manchas que ainda vou tendo espalhadas pelo corpo, e já poucas sequelas ficaram daquela sensação de solidão e de exclusão que marcou parte da minha infância.
Mas com a tristeza da minha filha voltei a lembrar-me das vezes que não se quiseram sentar ao meu lado, das que me apontaram o dedo e das que  fui excluída das brincadeiras. Também me voltei a lembrar dos vómitos que tinha todas as manhãs, e da angústia que sentia de cada vez que via o carro da minha mãe afastar-se quando me deixava à porta da escola.

Acho que a vida se faz de ciclos que vamos fechando ao longo do tempo. Ciclos que se repetem e que nos mostram, as vezes que precisarmos, que saímos sempre mais fortes das grandes batalhas.
A alergia já está a passar, a Vitória cresceu mais um bocadinho e eu também.
Ciclo fechado.


9 comentários:

Ana disse...


Marta

Isto de ser mãe é ... também sentir as dores de crescimento dos filhos e controlar a vontade de ir "dar-lhes colo" nesse local tão importante e por vezes tão selva - a escola.
Ainda bem que a filha já está bem.
Ana

Ana disse...


Isto de ser mãe é ...sentir as dores de crescimento dos filhos como nossas e controlar a vontade de ir dar "colo" e distribuir berros nesse local mágico por vezes transformado em selva.

Ana

Mel disse...

Olá!
também me fizeste lembrar um episodio que aconteceu comigo numa fase em que com 18 anos tive um disturbio hormonal gigantesco e que refletiu a cara cheia de borbulhas. procurei um dermatologista e receitou-me algo mto forte e que me fez mto mal mas na altura fiquei com crostas enormes por toda a cara e as pessoas afastava-me e pensavam que tinha lepra. é dificil sentirmo-nos diferentes e excluidos. Imagino o que passam tantas pessoas com problemas mais graves e que o pior deles é lidar com a discriminação.
Coração de mãe às vezes dói mesmo porque queremos proteger as nossas crias de tudo e de todos. que cosnigamos dar-lhes bons instrumentos para poderem voar sozinhas. mas custa e mto! bjs

vera disse...

É nisto que eu acho que a escola falha demasiadas vezes: na exclusão que não se combate, na inclusão que não se valoriza.
Podem-nos parecer coisinhas de nada, mas podem marcar as crianças para todo o sempre.

Anónimo disse...

Vera, não é a escola que falha: são os pais.
Na primária fui colocada de lado apenas porque o meu pai trabalhava na agricultura e nós vivíamos numa quinta.
E não eram as pessoas da escola que tinham qualquer culpa no cartório, eram os pais dos meus colegas que lhes diziam coisas como "no meio do mato apanham-se muitas doenças", "os piolhos vêem da horta onde ela brinca" e coisas assim...
De notar que eu raramente adoecia e os piolhos apanhava-os eu na escola.

Tânia

Pérola disse...

è uma pena só crescermos com a dor... parabéns pelo blog... bjinhos

Unknown disse...

Olá, como curou a psoríase? É que eu, depois dum grave problema de saúde, também me apareceu, nos pés, mão, cara...:(

Juvenália Dorotea disse...

Margarida S., sou a mãe da Marta e percebo muito bem a sua angústia.
Não sei que problema grave de saúde teve, mas eu própria descobri que a psoríase da Marta deveria ter que ver com infeções com estreptococos ou estafilococos porque sempre que tinha uma otite e teve muitas ou amigdalites e também teve muitas, piorava. Levantada a questão ao médico, confirmou-me que efetivamente era uma das causas possíveis da psoríase e, este diagnóstico ficou, posteriormente, mais que confirmado. Mas conheci pessoas, no decorrer deste longo percurso, que ficaram com psoríase porque apanharam um valente susto, quer por problemas graves de saúde, quer por problemas pessoais de mudança brusca de vida, o que confirma outra das causas da psoríase que se prende com o sistema nervoso. No caso da Marta e não só, melhorou muito numas "termas" no Agroal, perto de Tomar, recomendadas na altura por um dermatologista de renome, com a indicação que o local tinha uma ótima água, mas não tinha quaisquer condições de conforto e mesmo de higiene a nível das suas infra-estruturas. A Marta melhorou lá extraordinariamente e vi outros verdadeiros milagres mas, lamentavelmente, as águas ficaram poluídas por infiltrações de detritos de vacarias existentes à volta e, depois de um período em que foram feitas obras para melhoramento das condições existentes, constou-me que o ano passado, voltou a ficar poluído, o que realmente é uma pena. O último médico a que fomos contou-nos 2 histórias interessantes - uma foi o caso de uma senhora que foi atropelada, esteve em coma e quando acordou tinha ficado sem psoríase e outra que foi operada à vesícula e depois disso também ficou “curada”.
É realmente uma doença complicada, traumatizante e cuja causa e “cura” são difíceis de determinar.
Provavelmente não fui muito útil e gostaria de poder dar-lhe dicas mais concretas, mas infelizmente não tenho muito mais para lhe dizer, além de lhe desejar que consiga, como nós, ultrapassar esse problema. Um grande abraço solidário.

Unknown disse...

Juvenália, o dermatologista a que fui disse-me que é do sistema nervoso, junto com um problema de falta de defesas no organismo. Muito obrigada pela sua ajuda :) Um abraço.