sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Amizades (im)perfeitas

Talvez porque esteja mais velha, talvez porque a vida me tenha ensinado que nada permanece com vigor se não for regado regularmente, tenho pensado muito nas relações de amizade ultimamente.
E nas amizades que fui tendo e que perdi. E naquelas que se mantêm e que nem sempre sei o que fazer com elas.
Quem me conhece, sabe que sou de trato fácil. Odeio conflitos, sinto-me perdida num ambiente inóspito, não gosto do desconforto das relações difíceis em casa, no trabalho, no círculo de amigos. E faço {quase} tudo para manter a minha zona de conforto intocável, imaculada.
Ora sabemos que mais cedo ou mais tarde, há uma brecha que se abre, mesmo nas amizades mais intocáveis. E faz parte. Uma palavra mais azeda, uma discordância de pontos de vista, um gesto mais brusco, uma atenção que se espera e que não chegou, uma verdade inconveniente que apetece dizer e outra que não apetece ouvir. E quem quer ter amizades que perdurem na vida, tem que ter estômago para enfrentar as contrariedades do outro e permanecer, sempre que saiba que vale realmente a pena. Tal como no Amor. Sem melindres, nem azedumes, nem sensibilidades exacerbadas. Porque se mantém a certeza de que a essência da amizade {e do Amor} permanece. Apesar de tudo.
Acho que não tenho passado estas provas de fogo da amizade. E do Amor, dou agora os primeiros passos.
Tenho medo de ferir e de ser ferida, medo de não agradar e que me desagradem, medo de desiludir e que me desiludam, medo de me entregar e que se me entreguem, medo de me revelar e das revelações do outro.
Basicamente, tenho o mesmo medo de quando tinha 7 anos e tive um acidente que me obrigou a andar careca durante uns tempos- o de não ser aceite, tal qual sou.
As minhas amizades são assim, pouco regadas. Sem grande intimidade, que tenho medo de não agradar.
Acho que é tempo de olhar a menina de 7 anos, careca na escola primária, e lembrar-lhe que apesar das zombarias da maioria, houve quem não zombasse. E que vale a pena apostar nas pessoas, sem medo de sairmos magoados, ou corremos o risco de perder oportunidades de uma vida.

Às amigas Carla e Eduarda, obrigada pela inspiração.
É um privilégio ter quem mostre que o que acabei de escrever é possível.

MM

7 comentários:

Frida Kahlo disse...

Estou aqui entre a lagrimita e o coração apertado. Obrigada pela homenagem à minha doce e profunda amizade. De resto, tu, careca ou não, és tão facil de se gostar! Sei que conseguia resenrolar um rosário ao pé de ti. Talvez a culpa de estares tanto no teu casulo não seja tua, mas de quem foi aparecendo na tua vida. Também não tenho amizades dos 7 anos, mas as que tenho, especialmente a da Eduarda, é desde os tempos imemoriais, mesmo que sejam de apenas uns anos. Beijinhos

Anónimo disse...

Podia ter sido escrito por mim. Também ando há imenso tempo a macerar escrever sobre o assunto das amizades. A menina que fui tinha de ser perfeita (a mamã obrigava) e diferente de toda a gente. E depois teve uma depressão, aos 12 anos, que fazia com que ela se sentisse uma fraude porque tinha de dar a imagem que a mamã obrigava. E fechou-se, porque tinha de esconder que era uma fraude, que não era perfeita, nem melhor que ninguém.
Só podia fazer de conta.
Hoje essa menina tem 45 anos. Dá uma margem para as amizades, mas É uma margem (dou tudo menos a minha pessoa).
E não consegue, DE TODO falar, desabafar com ninguém.
E continua, há 33 anos, de depressão às costas...

Sorriso disse...

Quanto ao medo de não agradar penso sempre que somos todos seres imperfeitos e portanto no amigo verdadeiro tem de estar o saber entender isso.
Acho que é nesse saber aceitar a nossa, e a imperfeição alheia, que nascem e perduram os sentimentos verdadeiros como a amizade e o amor até por nós próprios.
Tal como tu também já tive receios porque me desiludi muitas vezes, mas acabei por perceber que apostar nas pessoas mesmo que nos traga "desagravos" é o melhor caminho.

Quando aposto nas pessoas,penso que existe sempre alguém que "não zombe da tal menina de 7 anos" e aí sim está o verdadeiro amigo! Amigo que não distinguimos pela cor mas que temos de cuidar!
Obrigada por me fazeres "falar" de sentimentos que são tão nobres - A Amizade e o Amor.

Anónimo disse...

Eu só queria fazer um breve comentário para dizer que eu estou feliz por ter encontrado o seu blog. Graças

nos"entas!!!! ( e feliz) disse...

Martinha......falta.me a coragem tambem a mim...para recomeçar a acreditar em mim e nos outros como qd era ainda inocente....ingenua de dores da desilusao. E embora cabeluda.....magra munca fui... Beijo amiga

Dolce Far Niente disse...

Fátima, mando-lhe daqui um enorme beijinho. Obrigada pela partilha. E força!

Dolce Far Niente disse...

Amiga dos "entas", muitos beijinhos.
És linda!!!!