terça-feira, 1 de maio de 2012

Uma carta aberta à minha filha

Querida filha,
Esta é uma carta para leres quando estiveres preparada para fazê-lo.
Porque só quando estiveres, de facto, perceberás o que te quero dizer.

Por razões que desconheço, cresci a achar que os grandes amores não existem.
Que são coisa de filme, de novela, de mulheres ingénuas ou fracas.
E acho que sem querer {e sem dar conta}, nunca acreditei no Amor. Ou por outra, passei muitos anos da minha vida a não acreditar num Grande Amor.
E porque não acreditava, nunca o busquei.
Quando falo de Amor, não falo daquele sentimento {que às vezes confundimos com Amor}, que nos enfraquece, que nos suga a energia e o vigor, que nos esvazia por dentro e que nos diminui. Não falo desse, porque esse não é Amor. Esse é o alter-ego do Amor. O seu lado sombra. Que ao invés de nos engrandecer, mata-nos aos poucos.
O Amor de que te quero falar, é outro muito diferente. Na verdade, é a antítese do que te descrevi.
O Amor a que me refiro, traz ao de cima o que tens de melhor. E faz-te sentir uma pessoa melhor, porque te enobrece o espírito e a alma.
O Amor de que te falo, torna-te iluminada, como se transportasses uma candeia acesa sempre contigo.
E mesmo nos momentos mais duros, sentirás sempre uma incandescência dentro. Uma luz interior que iluminará o túnel em que te encontrares. E é essa luz que te fará crescer sempre. Nunca ao contrário, ou não será o Amor de que te falo.

Gostava de te poder dizer que os grandes amores são para sempre.
Não sei se são. Infelizmente, não tenho ainda essa resposta para te dar.
Quando leres esta carta, não sei se já terás descoberto que as mães não sabem tudo, por isso, adianto-te o trabalho e afianço-te que não sabemos {para mal dos nossos pecados}.
É por isso que não sei se um grande amor dura para sempre.
Mas também não sei se é isso que realmente importa...
Há quem diga que "o Amor é eterno enquanto dura".
Prefiro pensar que o Amor é eterno porque algum dia existiu.
E porque durou, na direcção certa. Com respeito, com verdade, com responsabilidade e com uma boa dose de loucura e de rasgo, ou morre aos bocadinhos.

O que sei, é que ele existe.
E que às vezes aparece quando menos esperamos.
E que é facilmente identificável, porque vem acompanhado de grandeza e nunca de mesquinhez. De leveza e nunca de peso. Mesmo quando há fardos que temos que carregar em nome do Amor. Mas que se carregam com amor, cá está.

Com esta carta, quero pedir-te que, ao contrário de mim, não te escondas atrás da certeza de que os grandes amores não existem. Ou que são exclusivos das mulheres ingénuas ou das comédias românticas de qualidade duvidosa.
Porque das duas uma, ou corres o risco de fazer as escolhas erradas, ou de passares pelo teu Grande Amor e não perceberes.
Só porque tens medo de ser feliz.

Mãe



PS: Este foi o post que inspirou parte desta carta. A outra parte, veio da vida.

3 comentários:

IA disse...

Bom dia, adorei este post. Eu também perdi alguma, para não dizer uma grande, parte do meu romantismo, já não sei muito bem quando, e por isso também tenho uma certa tendência para achar as manifestações ditas de amor eterno um bocado lamechas e enfadonhas. Talvez seja a rotina, talvez seja os muitos anos de convivência, não sei... o que é certo é que também tenho uma filha e também quero que ela acredite no Amor...num grande Amor e que o viva intensamente...ou então o viva muitas vezes (porque eu também acho que podem existir vários/ alguns grandes amores ao longo da vida), o que é importante é que enquanto dure seja grande e vivido ao máximo.
IA

Unknown disse...

Prima, quão verdade é o que dizes! Eu ao contrário de ti sempre acreditei nos grandes amores e depois sentia a desilusão, mas um dia enchi-me de coragem que julgava não ter e corri atrás. Se é o grande amor da minha vida, não sei, espero bem que sim e por enquanto é-o! Porquê? Porque mesmo nos piores momentos, pelo menos para mim, está lá presente, pergunta porque estou assim, zanga-se e preocupa-se e não me dá só rosas e doces.Porque até aparecer outro maior, que espero que não, vou-me lembrar de um dia olhar para ele e vè-lo de mão estendida a segurar um canto de um móvel já há muito tempo e eu perguntei porquê que ele se agarrava assim, e ele me disse que tinha medo que eu me levantasse e me magoasse, porque quando nos zangamos sinto o coração apertado de dor commedo de o perder, porque me faz rir às gargalhadas, porque... até ver e sem querer ver, para mim existe e tal como tu, vou sempre incentivar a Pimpolhinha a procurar e não a esperar que caia de mão beijada no colo, esse sim, é dificil de ser um grande amor, pelo menos para mim... força prima!Aliás priminhas!!!

Dolce Far Niente disse...

IA, obrigada pelas palavras! E ainda bem que o post fez algum eco...:)
Estou a pensar lançar o desafio de me contarem histórias reais de grandes amores...de amores reais...acho que pode ser inspirador!
Muitos beijinhos


Prima, adorei o que escreveste! Força para as duas, também! :)

Beijocas