E como prometido, deixo-vos a segunda "love story" do Dolce Far Niente.
À protagonista desta história, o meu obrigada pela coragem da partiha.
E pela coragem do recomeço.
Porque nunca é tarde demais.
"Aos 51 Anos...
Aos cinquenta e um anos, depois
de dois anos de ameaços, seis de namoro, vinte e cinco de casamento, uma filha
e muitas, muitas histórias de adultério e outras…, a relação terminou…!
Foi o fim anunciado de uma união
que devia ter ficado pelo namoro, mas não soube ou não quis ver os sinais, que
oscilavam entre momentos de carinho e outros de completo desrespeito pelo que é
suposto ser uma ligação de amor entre duas pessoas.
E, assim, fiquei “viúva de marido
vivo”, oficialmente, depois de cerca de três anos em que a cama parecia dividida
a meio por uma enorme parede intransponível.
A “parede” tinha nome, nome de
flor…, que eu já tinha ouvido num daqueles traiçoeiros lapsus linguae, que
deixa desconfortável o descuidado e quem o ouve, sobretudo se, depois de
interpelado, responde apressadamente: “eu disse isso…? Nem conheço ninguém com
esse nome…!”
Mas tudo isto, junto com as
ausências ao jantar, os regressos tardios, sem justificação plausível, entre
outras coisas mais e ainda uma paixão que se tornou avassaladora e
incontrolável, conduziram à confissão de que havia “um envolvimento”, num
ambiente que, noutras circunstâncias, poderia ser profundamente romântico – o
interior aquecido dum carro, junto à Torre de Belém.
Sabia, como ninguém, como
conseguia conquistar com a sua simpatia, doçura, sentido de humor, tudo isto à
mistura com presentes e ambientes agradáveis e sofisticados, quando a isso se
propunha, mas imaginei que, remetendo-o para uma vida normal de casal, a coisa
não duraria mais que um mês e respondi-lhe simplesmente, sem sequer levantar a
voz que, então, fosse viver com o seu “envolvimento”…! Mas enganei-me…, porque
o objectivo dele era “sentir-se vivo” a todo o custo e o meu acabou por se
limitar à tentativa de sobrevivência, com uma auto-estima que já não estava bem
e depois ficou de rastos…!
E aí, surgiu uma colega de
trabalho, que encontrando-me por detrás dos meus onze quilos perdidos num mês,
me convidou a acompanhá-la ao médico, enquanto conversávamos. O médico era um
cirurgião plástico e depois de ter resolvido o que lá a levava, a minha amiga, enquanto
mirava o meu espanto crescente, pediu-lhe que me observasse, cuidadosamente, para
me ajudar a voltar a sentir-me gente.
Um mês depois, muito do que tinha
descaído pela força da gravidade e dos tais onze quilos perdidos, muito
rapidamente, tinha voltado à normalidade e se por um lado me sentia mais
segura, por outro continuava estupidamente perdida.
Até que a mesma amiga me dá um
número de telefone de alguém que organizava jantares, com pessoas tão
solitárias quanto eu e, depois de muitas vacilações, apesar das boas
referências, acabei por decidir inscrever-me para um jantar, num sábado de
carnaval de 1999, depois de saber que a minha filha, que me fazia muita
companhia, ia sair com uns amigos.
Levei algum tempo a escolher o
que levaria vestido, com uma excitação que já não sentia há longos anos e que
me fez lembrar a preparação para as célebres festas de garagem dos anos 60/70.
Acabei por me decidir por um vestido cinzento claro comprido, de malha, tipo
tubo e de gola alta, que só deixava o essencial de fora, mas permitia adivinhar
as formas do corpo e um casaco cinzento mais escuro, igualmente comprido e
justo.
Mal cheguei ao restaurante,
entrei em pânico, apeteceu-me fugir porque, para além da L. organizadora do
evento, com quem já tinha simpatizado muito, na nossa longa conversa
telefónica, quando da marcação do jantar, que diálogo poderia manter com umas
senhoras sorumbáticas vestidas de preto e com casacos de pele a cheirar a
naftalina e uns senhores, igualmente sorumbáticos, com lencinhos ao pescoço…?
Valeu-me a L. que tendo percebido,
não sei bem como, o meu pânico, me disse que estariam no jantar sessenta e duas
pessoas e que viria muita gente jovem com quem iria ter muito prazer em
conversar e, na verdade, assim foi.
Apesar da sugestão da L., dos
dois géneros se posicionarem alternadamente nas mesas, ficaram à minha direita
e esquerda duas mulheres bem mais jovens do que eu, podendo uma delas, a I. ser
mesmo minha filha, mas já viúva com três filhos, engenheira, e a outra um pouco
mais velha, professora, ambas “habitués” nos serões da L. Pelo resto da mesa tínhamos
um novato nestas lides, como eu, jovem como as minhas companheiras, um
admirador da jovem engenheira e mais um par dos tais que já lá estavam quando
cheguei.
A conversa foi bem animada, o
jantar de qualidade e no fim, uma cabecinha mete-se entre a minha vizinha da
esquerda e o seu admirador e comenta, olhando para nós duas, que se existisse
um prémio para quem mais conversou, que caberia a ambas. Depois dos
cumprimentos e das apresentações, A., ofereceu-se para me levar para a
discoteca, já com lugares marcados para o grupo, se não tivesse transporte, o
que não era o caso, mas fez questão de ir à minha frente para me ensinar o
caminho.
Na discoteca, sentou-se ao meu
lado e da sua amiga engenheira, conversámos e, logo que julgou conveniente,
convidou-me para dançar e, estranhamente, entendemo-nos muito bem, nesse campo,
o que nem sempre me acontece.
Depois, mais estranhamente ainda,
tudo foi encaixando, aquilo que pretendia da vida, as características da pessoa
que procurava, até que meia assustada e porque eram duas horas da madrugada,
qual Cinderela, achei que devia voltar a correr para casa, não com receio de
perder o sapato, mas com medo que o príncipe se transformasse em sapo, porque
tudo parecia perfeito de mais… e eu estava demasiado carente e vulnerável…!
Entretanto, um grupo restrito no
qual ele se incluía, com a minha companheira da noite, a I., tinha programado
uma saída na segunda feira de carnaval e, antes de sair, convidaram-me a
juntar-me a eles.
E, assim, na segunda feira lá fui
com a I. que veio até minha casa, juntar-me ao grupo numa daquelas discotecas,
especialmente para seniores, com música de anos 60 e 70, onde dancei toda a
noite com o A…!
Ainda hoje, é uma das coisas que
fazemos juntos, com enorme prazer…e agradeço-lhe, profundamente, ter-me ajudado
a viver, de novo, emoções que há muito tinham deixado de fazer parte da minha
vida…!"
MM
MM
3 comentários:
Viva a protagonista desta história; viva a luta que travou para ser feliz e por não ter desistido da vida.
Muitas felicidades e que continue a dançar por muitos e bons anos. Um beijinho
Esta história é a prova de que vale sempre a pena acreditar e nunca desistir.
Beijinhos
Obrigada Isabel e Helena pelos vossos comentários.
Nunca é tarde demais para recomeçar nada.
Beijinhos
Enviar um comentário